Canistrum alagoanum Leme & J.A.Siqueira

Um dos ícones do dramático estado de conservação da Mata Atlântica de Alagoas, na região Nordeste brasileira, é Canistrum alagoanum Leme & J.A.Siqueira, espécie que pode ser considerada criticamente ameaçada de extinção. Membro da família Bromeliaceae (subfam. Bromelioideae), somente em 2002 foi reconhecida como uma espécie taxonomicamente distinta de seu parente mais próximo, C. pickelii (Andrade-Lima & L.B.Smith) Leme & J.A.Siqueira, que também habita o Centro de Endemismo Pernambuco, mundialmente conhecido pela grande diversidade biológica e por abrigar incontáveis táxons no limiar da extinção.

Canistrum alagoanum tem hábito, frequentemente, epifítico e ocorre nos fragmentos de Mata Atlântica ainda existentes no polígono formado pelos municípios de Maceió, Murici, Ibateguara e Porto Calvo, região abrangida pelo Corredor de Biodiversidade do Nordeste. Possui inegável valor ornamental devido ao colorido, não raro purpúreo, de suas folhagens e inflorescência cilíndrica, elevada acima da roseta foliar, provida de largas brácteas primárias, densamente imbricadas e de intensa coloração vermelho-alaranjada.

Apesar de vistosa e de porte médio, sua descoberta tardia, no início do século XXI, deveu-se à combinação da escassez de suas populações e do fato de se tratar de uma espécie críptica, diferenciada de C. pickelii por caracteres morfológicos sutis, em sua maioria apenas observáveis a partir do estudo de espécimes vivos. São exemplos desses caracteres os discretos pedicelos das flores, a coloração do estigma, a conformação da corola na antese e a conformação dos apêndices petáleos. Essas características dificilmente são distinguíveis nos espécimes herborizados.

Foi também a observação de plantas vivas que permitiu constatar que as flores amarelas, diurnas, com corola mais tubular, guarnecidas por brácteas vermelho-alaranjadas de C. alagoanum indicavam polinização realizada por aves. Já C. pickelii ‒ com ocorrência mais ao norte, preponderantemente em Pernambuco ‒ é caracterizada como entomófila, e apresenta flores brancas, noturnas, com pétalas mais recurvadas e projetadas acima das brácteas amarelo-citrinas.

A perda, o empobrecimento gradativo e a fragmentação contínua do habitat representado pela Mata Atlântica alagoana associados à distribuição geográfica restrita e à ausência de Unidades de Conservação que protejam, efetivamente, populações representativas de C. alagoanum constituem os principais fatores de risco à sobrevivência da espécie, que ainda não conta com nenhum programa de conservação ex-situ. Outras espécies de bromélias endêmicas da mesma região e que partilham o status crítico de conservação são Aechmea atrovittata Leme & J.A.Siqueira, conhecida apenas de Paripueira, na região metropolitana de Maceió, A. marginalis Leme & J.A.Siqueira, A. serragrandensis Leme & J.A.Siqueira e Canistrum improcerum Leme & J.A.Siqueira, da região de Ibateguara, São Luís do Quitunde e Porto Calvo.

A situação atual dessas espécies requer a atenção de todos e esforços prioritários de pesquisa, nos vários campos da ciência e da conservação.

Elton M. C. Leme
Pesquisador-Associado
Marie Selby Botanical Garden,
Sarasota, FL, EUA